10.16.2009

Stier

Tua calma taurina
Me arrepia a crina
Contorcendo
E corrompendo
O resto de corrupção
Que ainda me vitima.

Tua sensatez pensada
Sem vestígio algum de mágoa
E nenhum arranhão sequer
Me arrepia o dorso
Sem que dê desgosto
Sem me converter.

Que pra me perder
Bastará fagulha
Bastará a injúria
Que você jamais me dará.
Que pra me envenenar
Bastará a gota
Da gota d'outra gota
De qualquer penúria
Que você jamais me fará passar.
Flora

São sonhos de bichos, de cães, de aviões caindo.
São lugares. Casas. Caminhos.
São ruas, becos, subidas.
São vilas.
Quando Flora sonha, é todo um mundo.
Realidade paralela.
Todo um mundo.
É continuação.
Aí acordo e é tudo um saco.
Quero dormir de novo.
Pra brincar,
Pra subir e descer rua,
Pra ir a festas escuras.
Em ruelas noturnas.
Pronta pra ser amada

Passou por mim.
Montada.
Em perfume doce e olhar afoito.
E maquiagem bem marcada.
O vestido lambia o vento
Ou o vento lambia o vestido?
Não digo que mexeste comigo.
Mas o fato é que em mim,
Deixaste algum alento.
Passou por mim.
Pronta.
A boca em leve chamamento.
Quem, na madrugada, te fará tonta,
E cega,
E surda?
Quem, no fim do dia,
Te comerá a carne,
Esteja ela quente,
Ou morna,
Ou fria?
Passou por mim.
Montada.
Em perfume doce e olhar ingênuo.
Pronta pra ser amada.
O sibarita

Canto as delícias do sibarita.
Faço delas as minhas próprias.
Este sim sabe viver,
Vive de modo a nada temer,
E nada perder.
Tuas noites têm cheiro de almíscar,
Somado ao forte cheiro do cio,
De tuas meninas.
São Roxanas, a entreter um só Alexandre.
São doidivanas, a consagrar um só homem.
Canto os orgasmos do sibarita.
Faço deles os meus próprios.
Este sim sabe viver,
Vive de modo a nada querer,
E tudo poder.
Tuas noites são banhadas a incenso,
E ao mais saboroso licor.
Tuas meninas lhe enchem de carícias,
Teus meninos lhe enchem de amor.
São bailarinas persas, a venerar um só Dario.
São serpentes, a dançar na pele de um só homem.
Homem esse que há muito deixou de ser homem.
Pra ser sibarita.

10.15.2009


Laika

A bordo do Sputnik II, lá vai ela espaço afora.
Que pensamento canino ousou Laika durante sua trajetória?
Será que teve medo? Será que teve fome?
Pensar nisso me apavora.

Queria eu, como Laika, ver de perto o Infinito.
E só então não ter mais fome; só então não ter mais medo.
Mas meu desassossego é tanto, que na pergunta eu insisto:
Que pensamento canino ousou Laika durante sua aventura?
Um afago lunar? Um osso interplanetário?
Penso nisso com ternura.

10.01.2009

Delírio artificial

Lá vem, lá vem Xerxes e seus elefantes!
Lá vem!